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O mosaico espontâneo, sua importância para a identidade da
arte musiva
Foi num grupo de discussão sobre a arte do mosaico (mosaic_artists) do Yahoo groups, que descobri, inebriado,
a arte musiva da Sra. Ilana Shafir, uma mulher de 78 anos, nascida na Iuguslávia, radicada em Israel, que pratica e advoga
a construção do mosaico espontâneo. E o que é isso? Bem, Dona Ilana propõe uma nova atitude relativa à criação musiva.
Não mais a idéia antiquíssima do cartão como o primeiro passo para a realização de toda e qualquer obra musiva. Ao contrário,
ela propõe a escolha aleatória de uma pedra ou um material qualquer para, a partir dessa pequena decisão, ir construindo a
peça musiva, gradualmente, sem ser balisado por nada. O rumo da obra vai sendo alcançado na medida em que a criatividade se
desdobra a partir do primeiro gesto, a escolha da pedra. Nada de idéia prévia, nada de rumo definido, nada das amarras pré-concebidas.
Ao começar o mosaico, Dona Ilana Shafir não sabe aonde vai chegar, mas ajuntando e agregando todo tipo de material, vítreo,
rochoso, cerâmico, de azulejo, etc., acaba conseguindo um efeito único, individual, grandioso, radiante. Não se copia nada
e se cria tudo! Vejam o que ela mesmo diz: No mosaico espontâneo, o artista não traduz uma pintura no mosaico. Em vez disso,
pensa como artista do mosaico e usa a língua distintiva de seu meio para criar sua expressão. Deste modo, o artista pinta
com pedras e compõe com as formas e as linhas que são inerentes nos materiais que ele encontra. E mais: (...) Eu começo
geralmente com uma parte interessante que me atrai e me diz algo. Esta parte inicial serve como um elemento-chave que dita
depois o desenvolvimento do trabalho inteiro. (...) Meus mosaicos são uma colagem que contém muitos materiais diferentes:
partes cerâmicas feitas à mão, telas cerâmicas que eu vitrifico, fragmentos de vidro, tesselas de vidro, pedras naturais de
todos os tipos e formas. Também uso corais, conchas e objets trouvés. (...) Esta variedade vasta dos materiais fornece uma
disposição infinita de possibilidades estéticas.
Enfim, a identidade musiva!
Fiquei meditando muito em cima
da apresentação teórica de seu trabalho e depois vi alguns mosaicos espontâneos por ela realizados. São obras primorosas e
muito ricas pela expressão singular, pela originalidade, pela qualidade e pela criatividade ... espontânea. Eis o segredo.
Acho que deveríamos examinar melhor essa linha de prática musiva. E digo isso porque a arte do mosaico, ainda que seja uma
expressão antiquíssima, que teve momentos de apogeu e de ocaso ao longo de milênios, sempre se pautou por ser uma cópia em
pedra (ou em qualquer outro tipo de material duro) de trabalhos pictóricos, primeiro os afrescos, depois os óleos, até se
cristalizar na idéia do cartão, que é um desenho artístico feito exclusivamente para a realização musiva. Os mosaicistas ,
de uma maneira geral, ficam satisfeitos por citarem grandes nomes da pintura como o mestre Chagall ou Klimt que realizaram
cartões para mosaico. Ou seja, porque tiveram este gesto de interesse em relação à arte musiva ao realizar projetos específicos
para mosaicos. Não eram efetivamente mosaicistas, mas tinham noção da importância do mosaico, até mesmo para perenizar suas
obras. Apenas isso. A originalidade da idéia de dona Ilana Shafir está em redirecionar o mosaico para um caminho absolutamente
próprio e original, que só poderá ser trilhado por verdadeiros mosaicistas. A idéia é tanto mais importante quando se
atenta para a razão dos grandes momentos de ocaso da arte musiva ao longo dos séculos. Um bom exemplo é o Renascimento. Nele
estão contidas praticamente todas as modalidades de artes visuais da época, com destaque evidente para a pintura e a escultura,
mas escapa à escola renascentista a arte musiva, que ficou relegada a um plano mais que secundário: foi ignorada pelos grandes
artistas do período. O mesmo se deu com a arte do vitral e com a tapeçaria. E por que? Qual a razão? Ora, o mosaico que
se fazia então (e se faz ainda hoje), assim como o vitral e a tapeçaria, nada mais eram que cópias de desenhos e pinturas
de artistas, geralmente os mais consagrados. E esta já era uma prática antiga entre os mosaicistas. Uma das obras mais expressivas
do mosaico romano, por exemplo, a batalha de Issus, em que Alexandre, o Grande, bate Dario dos Persas encontrado nas ruínas
de Pompéia e hoje remontado no Museu Arqueológico de Nápolis nada mais é do que uma cópia musiva de uma pintura da época retratando
aquele feito. Ora, aos mosaicistas vem cabendo, ao longo dos séculos, a tarefa (dura e difícil, claro) de copiar na pedra
o que outros criadores fazem na tela. O que Dona Ilana Shafir propõe é uma carta de alforria para os mosaicistas! Vamos
construir nossa identidade! Quem quiser que continue copiando, mas o mosaicista criativo pode e deve buscar o seu caminho
único, individual, só dele, baseado no conceito musivo, da agregação de pedaços para a construção de sua obra final, criativa,
própria e única. Parabéns, Dona Ilana, por iluminar os passos dos mosaicistas e ajudar na reflexão sobre a identidade da arte
e na descoberta de caminhos para engrandecer e dignificar a obra musiva! Gougon, em Brasília, maio de 2002.
(Tomo
a liberdade de reproduzir aqui alguns trabalhos da ilustre mosaicista Ilana Shafir. Também recomendo a todos a leitura de
seu texto sobre mosaico espontâneo, num site próprio, que linkei na foto, bastando clicá-la, para ir até à sua página)
durante o Congresso de Vitória |
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eu, orgulhoso, ao lado de Ilana Shafir (a glória!) |
MEU ENCONTRO COM ILANA SHAFIR!
Acredito que tenha sido uma das maiores alegrias de minha vida encontrar-me em setembro último com
Dona Ilana Shafir. Nunca pensei que isso ocorreria um dia. Fui ao VIII Congresso Internacional do Mosaico, realizado em Vitória,
no Espírito Santo, entre 1 e 5 de setembro, para ver muita gente e trocar muita experiência. Sabia que estariam presentes
algumas estrelas do mosaico contemporâneo mundial, mas nem passara pela minha cabeça a possibilidade de ter ali a presença
desta artista refinada e criativa. Pensava que, pela idade avançada, pensaria duas vezes antes de se deslocar a um país
distante como o Brasil, de clima tropical e de segurança precária. Que nada. Enganei-me redondamente, lá estava ela, de olhos
azuis belíssimos sempre atenta a tudo e a todos no Congresso. Foi uma emoção só. Trata-se de uma personalidade sensível, uma
alma apaixonante. Minha mulher, percebendo minha emoção, bateu fotos de meu encontro com Ilana Shafir, que reproduzo aqui.
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