No período de construção da nova Capital da República, Athos percebeu que a cidade tinha
pressa e não comportava, naquela ocasião, a execução demorada que caracteriza uma obra musiva. Tratou de adaptar-se ao
momento e às novas exigências da cidade. Nascia ali o azulejista que iria iluminar Brasília com sua arte enxuta e ao mesmo
tempo rica na decodificação plástica radiante que não permite a ninguém ignorá-la.
O artista permaneceu em Brasília onde é um nome festejado e querido de todos. Mas poucas
pessoas conhecem sua fisionomia, poucos tem acesso pessoal ao artista, poucos são os que já o viram. Mais grave: poucos
são capazes de reconhecê-o. Athos Bulcão, para muitos, ficou sendo apenas um nome, um autor, e sua fisionomia é,
digamos, mal conhecida, escondida do grande público, até mesmo pela discrição de vida que sempre se impôs.
Os habitantes de Brasília adoram sua obra e o veneram através dela. Mas desconhecem
o homem a concebeu.
Foi reconhecendo essa evidência que tratei de elaborar um painel que pretendia colocar no
Metrô do Distrito Federal com chances de atenuar parcialmente esta falta de conhecimento sobre a figura de Athos Bulcão. Ocorre
que os caminhos da vida nem sempre são aqueles que traçamos, o painel teve outro destino igualmente de grande visibilidade
: está ornando uma das entradas do Mercado Municipal de Brasília, na quadra 509 sul, da Avenida W-3 sul.
A obra eterniza o artista na pedra, ao lado da representação de sua primeira obra
em Brasília: os ladrilhos de pombinhas voando de cabeça para baixo que estão, desde 1958, decorando as paredes da Igrejinha
Nossa Senhora de Fátima, na SQS 108, bem pertinho do prédio de apartamentos, onde residi muitos anos de minha vida.
Adquiri um exemplar do ladrilho original do revestimento da Igrejinha e o quebrei, formatando
um mosaico, para assinalar que se trata de uma manifestação musiva de apreço e homenagem ao azulejista. Caminhando em sentido
contrário, coloquei minhas pombas em forma de azulejos, voando ao céu, e, na parte inferior, cuidei de fazer, com mosaicos
de mármores e granitos, os azulejos com suas pombinhas.
No centro, fixei seu rosto redondo, tomando o cuidado para conceder uma idade indefinida,
nem os 84 anos em que se encontra hoje nem tampouco os anos de sua mocidade, passada no Rio de Janeiro.
Acho que o resultado foi feliz. Pelo painel se interessou o bem sucedido empresário da noite,
Jorge Ferreira, responsável pela construção do Mercado de Brasília, um espaço com restaurante, botecos, floricultura, peixaria,
açougue e outros espaços comerciais agregados que dão uma conformação nova ao ambiente no coração da Capital da República.