Mosaico contemporâneo de Gougon e outras artes

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Painel de vidrotil em prédio de Copacabana
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O mosaicista Athos Bulcão, neste 7/11/2002
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A iniciação musiva do painelista Athos Bulcão
 
Foi na Exposição "ATHOS BULCÃO', CONSTRUÇÃO E POESIA", no Centro Cultural do Banco do Brasil, que tive a alegria de rever o grande painelista de Brasília, homenageado mais uma vez no alto de seus 83 anos, sempre dedicados à arte.
Tendo se transferido para Brasília em 1958, no auge da construção da cidade, consagrou-se como o artista de preferência de Oscar Niemeyer nas obras de revestimento, painéis, murais, divisórias e outras tarefas artísticas complementares à arquitetura. Seu nome hoje está indissociado de Brasília, da qual é uma das principais referências no domínio artístico, ele mesmo um monumento vivo a transmitir a todo instante a força de seu gênio criativo.
Pois em 1955, antes de transferir-se para Brasília, Athos produziu este belíssimo painel em pastilhas de vidrotil para um prédio residencial da Rua Bolívar, do Rio de Janeiro, onde vivia. Recorreu à linguagem musiva, inspirado certamente pelo grande impulso que o mosaico recebeu ao final dos anos 40 e início dos 50, com obras musivas de vulto realizadas por Portinari, Di Cavalcanti, Volpi, Paulo Werneck e tantos outros.
Sua transferência para Brasília impôs ao trabalho outro ritmo, digamos, mais acelerado no tempo e nos prazos que a construção da cidade exigia. Athos optou, na Capital da República, pelo uso de azulejos, em que se distinguiu com maestria, a começar pelo revestimento externo da chamada Igrejinha da 108 (Igreja Na.Sa.deFátima, projeto de Oscar Niemeyer realizado para Dona Sarah Kubitschek ainda em 1957, do qual se diz que foi inspirado num chapéu de freira). Depois deste, não parou mais, realizando obras pela cidade inteira, especialmente no Plano Piloto, onde decorou o Palácio Itamaraty, o Teatro Nacional, o Congresso, o Hospital Sarah Kubitschek, e muitos outros monumentos.
Pois foi este Athos Bulcão que compareceu à festa de abertura da exposição do Centro Cultural do Banco do Brasil, comovendo a legião de seus admiradores na cidade, que não são poucos. A mostra também abrigou fotos de outros trabalhos de sua autoria, como a sucessão de máscaras, muitas delas influenciadas, como se vê nas fotos desta página, pela força de sua vertente musiva, com a colocação de pedrinhas coloridas de vidro.
 

pingos de vidro ornam a máscara
figuraathos2.jpg

(Que ninguém repare ou condene a reprodução do painel musivo de Athos Bulcão apresentado acima. É que simplesmente abri as páginas centrais do catálogo e escaneei a fotografia, ficando um lado mais claro que o outro. O painel é perfeito, claro, e se encontra em excelente estado de conservação. Quando for ao Rio, tentarei fotografá-lo diretamente em vez da reprodução do catálogo. Nota de Gougon.)

Transcrevo aqui, a propósito, o texto magnífico que o jornalista e poeta TT Catalão publicou na edição de 7 de novembro de 2002 na página de Opinião do Correio Braziliense sobre Athos Bulcão, que mostra com nitidez a importância do artista para Brasília. É artigo para ser lido sobretudo por quem não é de Brasília, para ter uma noção de como o artista é ligado ou até se confunde com a vida da Capital.
 
 
Athos & atitudes
TT Catalão

A arte sobe pelas paredes. Athos Bulcão é assim. Com aquele ar de monge só na aparência, coisa do recato inteligente. Athos é um carioca do Catete legítimo expoente da constelação criadora de Brasília, mas com um expressivo detalhe: ficou na cidade. Habitou a utopia. Foi fundo nessa maquete de vanguarda e aborto socialista que, a cada dia, fica mais lúcida na construção da sua cidadania. E se Brasília adquire alma, além da prancheta monumental, é exatamente pela presença-seiva de figuras como Athos.

  É a diferença entre predadores e criadores da cidade. Uns vêm para se dar bem (carreira, lobby ou grana). Geralmente se espatifam na vidraça de luz do Planalto. São mosquitos tolos que vêem o lado de fora, mas desconhecem a magia da vidraça. Brigam com a cidade, sofrem com os modos e podem até sair com sucesso e dinheiro, mas a alma fica aos cacos por tanto confronto. Athos fez da sua arte, atitude de vida. Outra diferença: ele vive o que pinta, traça, modela, monta ou esquadrinha.

  Artista raro. Sem panelas, sem rodar bolsinha no mercado, sem bajular a corte dos críticos que criam factóides estéticos em nome daquela onda mais ou menos alinhada ao status Berlim-Paris ou substrato NY-Tóquio-Barcelona. Athos não cuspiu no prato que comeu. Ao contrário, ofertou sua obra e a si para a cidade canibal da sua grandeza.

  O brasiliense sempre encontra sua arte no caminho: ao lado da rodoviária tem o mural de cubos no Teatro Nacional; azulejos na Igrejinha, aeroporto, Parque da Cidade, Congresso Nacional e prédios públicos. Athos convive em cada pedaço da cidade. Athos está em painéis interiores, máscaras, pinturas e desenhos. Presente na grande galeria a céu aberto da cidade mania essa, de brasiliense celebrar ar livre, luz explícita, horizontes, justiça, exigir clareza em governador, impor ética na vida pública. Que mania!

  A arte de Athos foi reunida no Centro Cultural do Banco do Brasil, em exposição que abre hoje, às 11 horas, com a presença do artista. A atitude de Athos está nas ruas. Técnica e sensibilidade. Converte-se na própria obra como está exposto e integrado ao conceito de arquitetura. Supera o suporte: não enfeita parede, a justifica. Às vezes, é a construção que adquire sentido a partir da intervenção de Athos. Meigo e sagaz, ele compõe cada traço sob longa percepção do meio: absorve para depois criar. Afável em extrema paciência (volta o monge). Athos cultiva silêncios enquanto abre grandes planos monumentais. Retribua um pouco dessa oferta e ame Athos no que faz, onde ele estiver na cidade, pelo que ele é. Rumo ao CCBB, já!