Oscar: referência da arquitetura contemporânea |

|
"Mais importante que a arquitetura é a vida" |
MINHA HOMENAGEM AO DR. OSCAR
Meus companheiros dos tempos universitários o chamavam de Dr. Oscar e justo eu, que não cursei
arquitetura, mas jornalismo - um ramo de atividade totalmente sem cerimônia - , acabei absorvendo o uso de "Dr". sempre que
me referia ao grande arquiteto Oscar Niemeyer, professor querido e admirado por meus colegas dos anos 60 na Universidade de
Brasília, sobretudo os de arquitetura. Mal a aula se encerrava, disputavam quem iria levar pra casa os rabiscos
de classe deixados pelo mestre, espalhados pelo chão.
Fico hoje com certa sensação de intimidade quando, ao falar dele, trato-o por Dr.
Oscar, como se eu fosse alguém que lhe é próximo e o reverencia. Não sou próximo, mas com certeza o reverencio. Também
sou fã de carteirinha de suas obras, de sua arquitetura, de sua maneira de ser, desse seu jeitão que recusa elogios
de facilitário, especialmente os que o qualificam de "gênio", tratamento que mais detesta.
Conheci o Dr. Oscar pessoalmente ali pelo começo dos anos 70, na fase mais negra da
ditadura militar, que o impediu de dar sequência às obras de Brasília. Fui entrevistá-lo - na época, pelo Estadão
de S.Paulo, em cuja sucursal de Brasília eu trabalhava -. Falou-me longamente e me deu um depoimento sobre
seu sentimento em relação a uma série de obras inacabadas na cidade, inclusive sobre o projeto que fizera para o aeroporto
da Capital da República, preterido pelos militares e substituído por outro cheio de equívocos.
Como de hábito, suas palavras foram simples, nada rebuscado. Deu-me um depoimento sem rancor,
talvez até com certa piedade, lamentando pelos tempos em que vivíamos. Como cidadão, sempre foi igual em qualquer
época, em qualquer governo: um homem que clama por mais justiça social, por mais fraternidade entre os povos, enfim, que
deseja a paz. E, sobretudo, que o deixem fazer arquitetura sossegado, ainda hoje, do alto de seus 96 anos,
completados nesses dias de dezembro de 2003.
Enfim, para não ir muito longe: Tomei vergonha e realizei um painel em homenagem ao Doutor Oscar
Niemeyer, com muita honra. Fiz uma figura do arquiteto grave, até porque ele nunca foi mesmo de ficar rindo à toa. E
caprichei nas curvas do projeto. Não é disso que ele gosta, das curvas sensuais das mulheres que tanto diz serem fontes
de inspiração para seu traço? Pois estão aí, num estilo bem próprio dos tempos modernistas. E ainda mais: sem abusar de cores.
Não é também o Doutor Oscar quem diz que cor é coisa para decorador? "Arquiteto trabalha com formas", sustenta, "quem escolhe
cor é decorador". Pois muito bem, usei apenas preto e branco e a gradação de cinzas que existe
entre os dois tons. Acho que ficou classudo e elegante. Espero que o Doutor Oscar aprecie.
Henrique Gougon, em Brasília, Natal de 2003
|